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terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

SOBRE UMA ÉTICA PROLETÁRIA NECESSÁRIA


Desde que conhecemos a sociedade, enquanto forma organizada da espécie humana, que os valores éticos têm jogado um papel fundamental na sua edificação. Mas, nós marxistas, acreditamos que esta mesma ética esta submissa aos interesses das classes, que estão em constante luta, é mais uma das armas utilizadas, parte fundamental do controle hegemônico de parte da sociedade sobre a outra. O objetivo deste texto não é travar polêmicas que considero menores (como a distinção entre moral e ética, prefiro trabalhar como se fossem uma única coisa e lembrando que ambas tem o mesmo significado, uma em grego e outra em latim) ou expor um histórico da construção destes conceitos (achados facilmente em qualquer pesquisa de internet), mas buscar a construção de valores que norteiem a ação dos comunistas neste século, valores já presentes no seio do proletariado, que muitas vezes ficam ofuscados pela dominação dos valores burgueses ou pequeno-burgueses, mas que vão se construindo ao longo da luta destes, de seu cotidiano de exploração. E ir demonstrando como estes princípios foram e serão fundamentais para a luta concreta pelo socialismo. Ouso dizer, sem a percepção destes, dificilmente a vanguarda poderá estabelecer uma ligação mais forte com o proletariado.


QUAL A REAL NECESSIDADE DE ENCONTRARMOS A ÉTICA PROLETÁRIA?

Com a crise no qual mergulhou o marxismo, houve uma perda grande de perspectiva. Algumas idéias já derrotadas voltam à pauta e precisam mais uma vez, serem desmascaradas e outras surgem de novos desafios.

Como forma de se proteger dos ataques ideológicos da burguesia, muitos se fecharam e acabaram ossificando princípios que norteavam uma luta que passou a ocorrer de outras formas. Outros, oriundos ideologicamente da pequena-burguesia aproveitaram para difundir suas teorias anti-proletárias e encontrando muitas pessoas perdidas, acabaram por sendo vitoriosos, levando diversos partidos históricos pelo mundo ao peleguismo.

Muitas destas questões ainda estão presentes e influi diretamente na luta cotidiana. A burguesia também aprendeu com mais de um século de luta, utiliza de diversas armas para manter o proletariado longe de sua vanguarda.

O combate ao parlamentarismo deve ser travado do mesmo jeito que devemos travar contra o esquerdismo, que nega na prática a participação neste, por princípios éticos claramente pequeno-burgueses, que não enxergam a diferença entre tática e estratégia. O combate ao assistencialismo deve ser travado do mesmo jeito que devemos travar o combate contra o sectarismo, que não reconhece nestas, muitas manifestações que podiam ser utilizadas a favor da revolução.

Como vanguarda do proletariado, nossa ações devem estar em consonância com este, para isso devemos conhecer profundamente as novas formas de luta que devemos travar no séc. XXI, as exigências históricas e quais tipos de valores devem ser combatidos e quais devem ser estimulados.


OS PRINCÍPIOS ESTÃO LIGADOS AS NECESSIDADES DE CADA TEMPO

Para travarmos esta discussão, temos que ter claro, a nossa ética é aquela que norteia a nossa atuação na construção de uma sociedade comunista, sociedade esta organizada de forma coletiva, ou seja, controle coletivo sobre a produção, inexistência da propriedade privada dos meios de produção, inexistência de classes sociais e igual valorização do trabalho material e intelectual. Esta sociedade deverá ser regida por princípios que permitam a existência desta sem o controle do estado, a existência do novo homem consolidado, com ampla participação voluntária nos objetivos coletivos, tendo claro que o desenvolvimento individual e coletivo deve ser um objetivo permanente. Valores como a igualdade real de direitos, a liberdade de expressão, a ajuda mútua, a valorização do trabalho e o aperfeiçoamento permanente do ser - humano serão condicionantes para a existência de tal sociedade, e só poderão ser alcançados com muito tempo de luta contra os valores da sociedade burguesa.

Esta luta contra a burguesia e seus valores pode ser divida, em grosso modo, em duas etapas: Na primeira, os valores burgueses são hegemônicos e ela detém o poder estatal, têm todos os mecanismos para a sua promoção e manutenção, ou seja, a sociedade capitalista. Na segunda, o proletariado está no poder e deve ir abolindo gradualmente os valores burgueses que entravam o desenvolvimento da nova sociedade e criam um campo fecundo para a restauração do poder político burguês.


OS DESAFIOS DURANTE O SOCIALISMO

O principal desafio da sociedade socialista é, numa primeira etapa, estabelecer a hegemonia do proletariado num determinado local, garantindo e ampliando o poder estabelecido na tomada do poder, para em etapas posteriores ir enfrentando novos desafios ligados a criação da sociedade acima exposta. Desafios estes que se darão no seio do próprio proletariado, que deverão se forjar dia a dia como os homens do futuro e ao mesmo tempo, serem extremamente combativos, para o enfrentamento constante com a burguesia, que será outro desafio em si.

Valores como uma disciplina rígida, espírito de sacrifício, confiança, solidariedade internacional, amor a sua pátria e a crença inabalável da vitória socialista são fundamentais neste período de luta, tendente a ser historicamente longo, cheio de idas e vindas, com o avanço e o retrocesso da luta revolucionária, onde cada país que a revolução conquista é um motivo a mais para o aumento da ameaça imperialista, países estes que sofreram ataques em todos os campos, políticos, ideológicos, econômicos e militares. A humanidade deverá provar para si mesma que é digna de um mundo quase perfeito. E cada povo que se libertar deverá mostrar para os outros que esta sociedade diferente é possível.

Temos belos exemplos de que isso é mais que possível, é real. Olhemos para o povo cubano hoje, que grande é o exemplo de um povo que há quase meio século resiste aos mais diversos tipos de ataque do imperialismo estadunidense. Uma ilha, pobre materialmente, localizada do lado do maior império da história, resistiu e resiste a ataques militares diretos, conspirações e espionagens, propaganda negativa espalhada para o mundo todo e um bloqueio econômico desumano que dura décadas. Só isso, seria o suficiente para encantar qualquer um, só que ainda tem mais. Neste meio século de luta, o povo cubano não foi responsável apenas pela sua emancipação, mas ajudou a libertação de diversos povos do 3º mundo. O principal ícone de seus valores, Ernesto Che Guevara, iria até o fim, pagaria com sua vida pela libertação dos povos, tombando fisicamente nas selvas bolivianas em 1967. Na África, o melhor exemplo é Angola, país que recebeu ajuda militar na luta por sua independência.

Outro belo exemplo que ainda resiste, é o exemplo dado pelo povo vietnamita. Quantas lágrimas de sangue o império estadunidense chora até hoje por esta derrota. Quem diria que um país minúsculo, com um potencial bélico quase medieval, poderia derrotar diretamente a tecnologia e a crueldade da guerra estadunidense... Quem diria que aquele milenar povo, que resistiu a tantos impérios em sua história, pudesse resistir ainda mais... Quem diria que aqueles pequenos seres-humanos (em estatura) derrubariam gigantescos soldados, massas de músculos, produto de muito McLanche e muita malhação.. Quem diria que aquele pobre povo (economicamente) resistiria às destruições em massa de sua principal fonte de alimentação, o arroz e da poluição de sua água... O que parecia impossível se tornou realidade. Só uma força é capaz de driblar tantos cálculos reais, a crença no socialismo como único sistema capaz de libertar a humanidade.

Mas antes destes, a humanidade já pode conhecer o espírito de sacrifício do povo soviético. Este texto se tornaria imenso se fosse citado cada exemplo durante os anos da Guerra Civil, basta lembrar, que valorosa foi a luta deste povo, que sacrificou 20 milhões de seus filhos na luta contra a máquina de guerra nazista, na luta pela emancipação da humanidade e por sua pátria. Como a humanidade deveria agradecer a cada um destes soldados, que iam para a guerra sabendo que nem fuzis poderiam ter. Se o Armageddon é real, este aconteceu nos dias frios da batalha de Stalingrado. 70% da máquina de guerra nazismo, pior face do capitalismo demonstrada até hoje, foi destinada ao combate direto a URSS, ou seja, foi destinada a combater o socialismo.

Muitos outros povos deram seus exemplos, assim como esses, demonstraram que o socialismo não é só um sonho, é uma necessidade.

Que num futuro próximo, como pregou Che Guevara, possamos estar assistindo a um, dois, três, muitos Vietnans.


PRINCIPÍOS NECESSÁRIOS PARA A LUTA NO MUNDO DE HOJE

Socialismo ou Barbárie

Vivemos numa sociedade que beira o caos. Cada dia que passa, ficamos sabendo de um caso mais absurdo que o outro, coisas que nos chocavam há pouco tempo atrás, como pessoas da mesma família se matando ou bebês abandonados para morrer pelas mães já se tornaram até previsíveis, pois as coisas vão se aproximando mais de um filme de terror a cada dia. 3 exemplos podem ilustrar bem o que quero dizer. O rapaz que cortou o braço da namorada com uma espada ninja no Rio de Janeiro, por ela não querer reatar o relacionamento com ele, a mulher estadunidense que matou a filha com menos de 1 ano queimando-a no forno microondas e a mulher que matou seus 2 filhos com uma serra elétrica no estado de São Paulo.

Tudo isso indica que os valores que regem nossa sociedade não estão dando conta de manter a sociedade organizada, mesmo que para fins de uma pequena minoria. Os valores nos quais o capitalismo nasceu, aqueles proclamados pela Revolução Francesa, de liberdade, igualdade e fraternidade já se demonstram inviáveis se for mantido este sistema, subjetivamente, gera nos seres-humanos uma frustração com a vida imensa, pois são educados tendo em vista que a felicidade é “X”, mas esse “X” vai se tornando impossível, alguns enlouquecem (como estes citados), outros entram em depressão (que vem crescendo drasticamente nos últimos anos) e ainda sim, tem alguns que acham o conforto, esperando a felicidade no pós-morte, um dos últimos mecanismos do próprio sistema capitalista que ainda funciona, uma religião.

Talvez nunca antes a questão “socialismo ou barbárie” foi tão real. O capitalismo realmente não dá mais conta de resolver diversos problemas. Além de entravar as forças produtivas, este passa as destruir, não destrói dó a humanidade, mas sim o mundo em que vivemos. A única saída para isso parece ser pelo menos na teoria, simples, a revolução socialista, a tomada do poder por outra classe que tenha interesse e a necessidade de resolver estas contradições. Mas infelizmente, uma minoria, composta de intelectuais e militantes, acredita nisso realmente. Um paraíso composto por belas nuvens e a paz eterna da alma tem muito mais adeptos do que a revolução proletária.

É óbvio que todos os mecanismos que a burguesia possui para anular a esperança pelo socialismo somado com a queda da URSS e a crise do marxismo são essenciais para esse isolamento, mas não adianta ficarmos chorando pelo leite derramado ou contemplando nossa desgraça eternamente, temos que arrumar soluções concretas e sair das análises simplistas das fórmulas feitas.

No mundo em que vivemos, coisas simples, naturais, que não são apenas valores que servem para a manutenção do domínio de classes e sim para a manutenção da humanidade enquanto espécie, como o amor aos filhos, a aversão ao sofrimento alheio, a valorização da natureza, etc... Estão se perdendo, qualquer coisa que vise combater isso passará a ser absorvido bem pelas massas, pois é necessário! A burguesia apresentará as saídas dele, que não vão além de resolver as necessidades imediatas, não resolvendo o problema na raiz, já que a raiz do problema é sua própria dominação. Nós temos que apresentar as nossas, mas demonstrando-a superior no dia a dia, na prática, não só no discurso.

Romper com o sectarismo

É difícil admitir que também erramos, é mais fácil jogar a culpa na força do adversário no que na nossa fraqueza, mas é fato, grande parte da adesão que as religiões e as ONGs têm hoje, são frutos da capacidade de modificação da realidade concreta, realidade que mesmo imediata, beira o caos. Qualquer ação que venha diminuir o sofrimento generalizado e adiar o caos que parece estar a cada esquina passa a ser bem vista e a receber adesão da parte mais avançada da sociedade espontânea, que não está envolvida com nenhuma luta mais geral. Poderiam dizer que estes valores humanistas, de aversão a fome, a miséria, manutenção do meio ambiente e etc. são influentes por causa do cristianismo. Sem dúvida que o cristianismo ajuda bastante, e sem dúvida também, que por ter estes valores, foi a religião que teve entrada popular que a burguesia necessitava para garantir sua dominação.

Mas não podemos esquecer que a modificação da realidade concreta é um fator fundamental para demonstrarmos a nossa capacidade de luta para as massas, para ganharmos a sua confiança e que devemos sim, estimular esses valores na militância socialista, como dizia Che Guevara, a capacidade de se indignar com o sofrimento de alguém é a qualidade mais bela de um comunista, jamais devemos perdê-la! Não adianta ficarmos fazendo belos discursos, debates infinitos que demonstram por A+B que o socialismo é a saída, garanto-lhes que para boa parte do proletariado brasileiro o resultado do jogo no fim de semana é bem mais atrativo e vai deixá-lo bem mais feliz. Chega de não fazer nada nos sindicatos porque estamos em defensiva estratégica e não podemos fazer uma greve, façamos uma campanha que arrecade alimentos para os mendigos na rua da fábrica, no qual todos os trabalhadores que por ali passam se indignam. Vamos utilizar as armas que o capitalismo criou para nos afastar da massa contra ele mesmo. Não é difícil, depois de cada ação é só culpar o capitalismo por aquilo, mostrando que o que foi feito amenizou a situação de um punhado de sofredores, mas se quisermos resolver o problema de milhares a saída é o socialismo. O pré-conceito deve ser vencido. Se os comunistas acreditam que nesta fase devemos mobilizar grandes massas, não podemos ficar presos a velhas formas, restringindo qualquer saída criativa, usando falácias pré-conceituosas.

Um belo exemplo é a própria revolução cubana, que para ganhar adesão do povo, realizava a alfabetização dos camponês.

Os valores são construídos dentro de um contexto histórico, uma necessidade real

A realidade concreta vai empurrando para a criação de valores no subjetivo dos mais pobres, como a solidariedade, o amor, a valorização do trabalho e a ajuda mútua, principalmente em povos latino-americanos que tem essa tradição de povos mais “acalorados”, valores que não são estáticos, existem e pronto, nada disso, são como qualquer idéia, podem mudar, tem vários níveis de intensidade, mas existem, estão aí, a existência destes contrapõe a existência do capitalismo, um não vive em paz com o outro, mas para que amplas massas possam traduzir isso em forma de luta política, a vanguarda é necessária. Deve cumprir o seu papel histórico, que é elevar a consciência das lutas pela modificação da realidade imediata (seja econômica, como a greve, seja no grêmio estudantil ou assistencialista) para a luta maior, historicamente consciente, ligando uma a outra dialeticamente.

Ser o exemplo destas sociedades é fundamental para que a vanguarda possa acreditar e guiar os oprimidos. Os comunistas devem ser e demonstrar ser os mais humanistas, os mais abnegados, os que conservam no dia a dia valores como a honestidade, o amor e a fraternidade. Devem ser capazes de mostrar que sua revolta não é apenas o desejo de sangue e guerras, mas sim que é a indignação que cada um tem contra a fome do vizinho, o desemprego do amigo e o pré-conceito que sofre, elevado milhões de vezes.

Como pregar uma sociedade diferente, se dentro da própria organização encontramos fofocas, apoio a desonestidade, disputa de espaço, indisciplina, preguiça, burocratismo e voluntarismo. Valores estes que vão totalmente contra a realidade do proletariado, que fazem com que o proletariado não se reconheça enquanto parte daquilo, pois aprendeu com a vida, que a melhor forma de viver não é aquela.

O capitalismo já não consegue resolver os problemas da humanidade. A busca pelo o que é realmente certo e o que é errado, ganha espaço em todos os lugares, livrarias, canais de TV, internet... As pessoas precisam de regras de convivência, pois sem elas, a barbárie se instaurará e teremos sorte se sobrar alguma coisa da raça humana. Temos que ser capazes de apresentar a nossa proposta e colocá-la a prova diariamente, construindo desde já seres-humanos que a coloquem em prática, que tenham na sua consciência a preservação de valores fundamentais para a existência da espécie e que sejam capazes de levar até o fim a luta pelo socialismo. Não basta dar esmolas aos mendigos, nem não jogar lixo no chão. Mas também já não basta ser um socialista por espírito de aventura, por ser legal. Deve-se ser socialista de coração, ou seja, dar esmolas aos mendigos, não jogar lixo no chão e abrir mão de sua própria vida na única solução capaz de resolver completamente estes problemas, a revolução socialista. É irreal acreditar que podemos ser dentro da sociedade capitalista o mesmo homem da sociedade socialista, temos que ganhar dinheiro, temos que fazer alianças com setores da burguesia, enfim, mas é também irreal, acreditar que seremos vistos como alternativa se não colocarmos em prática o que for possível, se não exercermos o socialismo diariamente em nossos atos, sempre tendo como objetivo a tomada do poder político. Engels é um bom exemplo, tinha uma origem burguesa, não deixou de ser (imaginem o que seria de Marx sem a ajuda financeira de Engels), mas implementou o que pode, para amenizar a exploração dos trabalhadores nas fábricas de sua família. Os fins justificam os meios, desde que os meios não atrapalhem os fins, e meios que nos afastem do proletariado estão em total contradição com nosso fim maior, o comunismo.


Escrito por Diego Grossi em Setembro de 2008



Bibliografia:

Altamiro Borges: O papel estratégico do proletariado.
Augusto Buonicore: A construção do homem no jovem Marx.
Enver Hoxha: Sobre o caráter ideológico dos mexericos.
Ernesto Che Guevara: O socialismo e o homem em Cuba; O que deve ser um jovem comunista.
István Meszaros: Socialismo ou Barbárie.

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