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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

FUTEBOL E CARNAVAL: UMA DISCUSSÃO SOBRE DIVERSÃO POPULAR E PÃO E CIRCO

Futebol: Utilizado pela Ditadura Militar como instrumento de alienação popular

O "panis et circenses" era a política implementada pelo governo do Império Romano para garantir o domínio sobre a população, através do fácil acesso ao pão e à diversão (principalmente os grandes espetáculos nos estádios, como a luta de gladiadores). Muitos identificam o futebol e o carnaval como partes do "circo" contemporâneo, em que estes não passam de meios para alienar o povo. De fato há uma série de eventos históricos indiscutíveis que sustentam essa tese, mas há que se aprofundar mais na discussão, demarcando muito bem a fronteira entre o que realmente é alienante e o que é cultura popular.

Com o fim do campeonato brasileiro e o início da preparação para o carnaval de 2012 o momento não poderia ser mais oportuno para o debate. Enquanto alguns chegam ao extremo da selvageria (se matando nas portas dos estádios, etc.) e da paixão (chorando pela derrota do seu time, doando-se pelo sucesso de sua escola de samba, etc.) outros condenam veementemente esses mecanismos de diversão popular, assim como aos que gozam destes. Considero ambos os "lados" equivocados, mas com certo foco no segundo grupo, já que a imensa maioria dos que compõem o primeiro grupo não são "intelectuais ativos", não fazem o que fazem pela razão e nem gritam pelos 4 cantos do mundo como estão certos, apenas vivem o cotidiano da sociedade, "caminhando com a boiada". Já os "pensadores" possuem a obrigação de formular opiniões e sustentar teses de forma mais concreta, pois além de possuírem o elemento fundamental para isso (senso crítico ativo), estão propondo aos demais mudanças que interessam a todos.

Deve-se destacar a importância de toda crítica ao caráter alienante das ações promovidas pelo Estado (de forma direta ou indireta) como forma de garantir a hegemonia burguesa, mas nem sempre essa crítica parte de um ponto de vista popular. Muitas vezes há uma carga considerável de preconceito velado de classe, que trata os meios populares de diversão como inferiores e exalta ao mesmo tempo outras formas de lazer típicas da classe média alta. Esse tipo de postura pequeno-burguesa precisa ser combatida, pois apesar de seu discurso emancipador, não passa de uma tentativa de substituir os "meios populares de alienação" por outros meios não tão populares (geralmente pelo alto custo financeiro), mas que podem ser tão alienantes quanto. O problema não está no futebol, no carnaval ou em qualquer outra forma de lazer, mas no fato dos mesmos serem utilizados como meios para alienar o povo.

A Copa do Mundo de 1970 e a transformação do Pelé em mascote da Ditadura Militar talvez sejam os maiores exemplos da história do Brasil de como é importante para a elite fazer o povo feliz através de meios que não prejudiquem sua dominação e seu lucro, garantindo a subordinação popular. Na História global também não faltam exemplos, a própria seleção brasileira foi vítima de uma manipulação promovida pelo governo sede da Copa da Argentina (1978).

O aproveitamento por parte da elite da cultura popular e sua metamorfose em um meio de alienação precisam ser denunciados, mas sem preconceito e mecanicismos. A diversão é inerente à vida e uma posição intelectual voltada para o povo que não leve isso em consideração será "instintivamente" rejeitada, dando espaço para a mercantilização e a manipulação midiática/burguesa das formas legítimas de cultura popular.

Diego Grossi

2 comentários:

Lucas Goulart disse...

Excelente texto...

Diego Grossi disse...

Obrigado!

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